Leia a parte 1
Queria voltar atrás, mudar os erros do passado. Só nos damos
conta das dores que causamos, quando não podemos mais remediar, quando já é
tarde demais para enxugar as lágrimas, quando a diferença entre o fazer e o
feito é uma tênue linha que liga e cela o destino de cada um de nós.
Continuo a olhar sempre em frente, não ouso mais olhar acima
dos meus pés, não quero encarar as pessoas, elas não tem culpa pelo que eu fiz,
elas não merecem estar ali, mesmo que sem saber, andando lado á lado com um
monstro, é exatamente isso me tornei, um monstro, o mesmo que eu afugentava da
mente dos meus pequenos nas noites frias, os mesmos que eu tinha que lidar
todos dias.

Continuo a caminhar e mal posso acreditar onde meus passos
me trouxeram, meus olhos marejados só conseguem identificar as formas e as
poucas cores, porque a imagem já me é familiar, um desespero suplanta minha
alma, uma força incontrolável que me faz querer gritar, mas não consigo, só
tenho forças para gemer, gemer de dor e de sofrimento.
Agora de joelhos só penso em minha família, nos dias bons,
no amor e no carinho. De joelhos diante de uma igreja, um clichê que o destino
nos impõem, talvez minha alma querendo perdão, talvez meu corpo suplicando por descanso, não me sinto digno do chão no qual eu rastejo, não me sinto no
direito de rogar a um Deus que não sei se existe, um Deus que me impôs a maior
das provações, e pela qual eu certamente falhei.
Com dificuldade me levanto, ainda meio desnorteado pelo
devaneio, uma suplica inconsciente e descrente de salvação. Minhas mãos estão
encharcadas, minha fronte gotejando entre lágrimas e um suor frio, a brisa
gélida da noite corre tornando ainda mais difícil manter o corpo rijo sobre as
pernas que já não suportam mais o peso do próprio corpo, a dor agora se mistura
com mal estar, a fome, a angustia incessante.
Cambaleante me encaminho a praça em frente a igreja,
recosto-me a relva sob uma árvore, ali descanso o corpo, a mente foge-me longe,
os pensamentos escorrem, a dor se acalenta em meu âmago, e só.
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