Estou caminhando sozinho ao longo de uma rua lúgubre, os
poucos e fracos resquícios de luz que se vêem partem das casas ao longo da rua,
famílias que se reúnem em suas salas para contar como foram seus dias,
televisores ligados, músicas alegres de uma novela. A lua tenta se esconder
atrás das finas nuvens no céu, talvez nem ela queira me ver, nem ela queira
saber de mim, o que eu sinto, o que eu vivo.

As forças me faltam para continuar, não sei para onde estou
indo, não sei o que fazer, ando sem rumo por essa rua. Sinto o cheiro da
vergonha, sinto o pútrido odor desse sentimento que se apossou da minha mente,
da minha alma, de todo o meu ser. Achei que sair e tentar respirar um pouco de
ar fresco enquanto tudo isso passa seria uma alternativa válida, mas nem o mais
puro ar do campo tiraria de mim esse desgostoso sentimento.
Agora as luzes começam a se tornar mais presentes, o som de
carros invade o espaço antes preenchido pelo silêncio, caminho agora por uma
avenida, algumas lojas ainda estão abertas apesar da hora, na sua grande
maioria restaurantes e lanchonetes exalando um delicioso aroma, algumas pessoas
cruzam por mim, ninguém me olha diretamente, ninguém esbarra em mim, acho que
ninguém nota minha existência ali, e nem precisam, não valho um oi ou aceno de
cabeça, muito menos um olhar. Resigno-me por ainda existir, mesmo achando que
isso é bondade demais pra alguém como eu, ou talvez um castigo, continuar aqui
depois de tudo.
Um pingo de suor me escorre pela face, sinto frio e calor ao
mesmo tempo, é um suor gelado que escorre. Como um sopro da morte sinto
calafrios, a vontade de chorar aumenta, não sei mais o que fazer, parar e pedir
para o primeiro vivente da rua que me tire desse sofrimento, continuar andando
até que não me sobrem mais forças e eu simplesmente caia e deixe esvair-se as últimas
forças do meu ser.
Seria pedir demais rogar a Deus nesse momento, talvez ele
tenha me esquecido, me abandonado, eu me abandonaria se estivesse no lugar
dele, não mereço misericórdia, nem perdão. Sinto que meu castigo é viver
sabendo o que fiz, sentindo todo dia o peso das minhas escolhas.
Lindo, *-*
ResponderExcluir