quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Amargar (pt.1)


          Estou caminhando sozinho ao longo de uma rua lúgubre, os poucos e fracos resquícios de luz que se vêem partem das casas ao longo da rua, famílias que se reúnem em suas salas para contar como foram seus dias, televisores ligados, músicas alegres de uma novela. A lua tenta se esconder atrás das finas nuvens no céu, talvez nem ela queira me ver, nem ela queira saber de mim, o que eu sinto, o que eu vivo.

          O ar esta úmido, as plantas orvalhadas, um fino fio de água corre na lateral da rua junto à sarjeta indo de encontro ao bueiro, talvez eu me sentasse a essa sarjeta e juntasse a esse fino fio d’água as muitas lágrimas dentro de mim, talvez eu me recostasse a um desses postes, sentado no chão e me lamuriasse pelas desventuras dessa vida, mas de que isso adianta agora, o passado é passado e nada vai mudar o que está feito.


          As forças me faltam para continuar, não sei para onde estou indo, não sei o que fazer, ando sem rumo por essa rua. Sinto o cheiro da vergonha, sinto o pútrido odor desse sentimento que se apossou da minha mente, da minha alma, de todo o meu ser. Achei que sair e tentar respirar um pouco de ar fresco enquanto tudo isso passa seria uma alternativa válida, mas nem o mais puro ar do campo tiraria de mim esse desgostoso sentimento.

          Agora as luzes começam a se tornar mais presentes, o som de carros invade o espaço antes preenchido pelo silêncio, caminho agora por uma avenida, algumas lojas ainda estão abertas apesar da hora, na sua grande maioria restaurantes e lanchonetes exalando um delicioso aroma, algumas pessoas cruzam por mim, ninguém me olha diretamente, ninguém esbarra em mim, acho que ninguém nota minha existência ali, e nem precisam, não valho um oi ou aceno de cabeça, muito menos um olhar. Resigno-me por ainda existir, mesmo achando que isso é bondade demais pra alguém como eu, ou talvez um castigo, continuar aqui depois de tudo.

          Um pingo de suor me escorre pela face, sinto frio e calor ao mesmo tempo, é um suor gelado que escorre. Como um sopro da morte sinto calafrios, a vontade de chorar aumenta, não sei mais o que fazer, parar e pedir para o primeiro vivente da rua que me tire desse sofrimento, continuar andando até que não me sobrem mais forças e eu simplesmente caia e deixe esvair-se as últimas forças do meu ser.

          Seria pedir demais rogar a Deus nesse momento, talvez ele tenha me esquecido, me abandonado, eu me abandonaria se estivesse no lugar dele, não mereço misericórdia, nem perdão. Sinto que meu castigo é viver sabendo o que fiz, sentindo todo dia o peso das minhas escolhas.



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